De cachorro para cão
Há duas coisas que importa reter acerca do seu novo companheiro, no que respeita aos aspectos que definem a sua genética psicológica e emocional:
Primeiro, os cães regem-se pela hierarquia na matilha, sendo o papel do ser humano de líder canino. Tal facto é instintivamente assumido pelo cão, estabelecendo-o automaticamente devido à superior inteligência quantitativa do ser humano. Isto significa que, como líder, cabe ao ser humano premiar boas condutas, estabelecer regras e manter o equilíbrio e bem estar da restante matilha, garantindo os recursos essenciais à sua sobrevivência. Assim sendo, se este equilíbrio faltar, o seu cão irá tentar assumir o papel de líder, induzindo vários comportamentos que se tornarão erráticos e que não gostará de ver no seu companheiro.
Segundo, a famosa frase "O cão é o melhor amigo do Homem" vai muito mais além do que o simples companheirismo e lealdade. Esta frase refere-se, acima de tudo, ao facto de o cão espelhar exactamente o comportamento e conduta do seu dono, visto por ele próprio como líder da matilha, como já referimos anteriormente (se quiser saber sobre si próprio, adopte um cão e, estabelecendo com ele a hierarquia da matilha, veja-se a si no seu amigo de quatro patas). O mais espantoso neste facto é que esta habilidade foi desenvolvida pelos cães para evitar a aprendizagem por tentativa-erro (uma aprendizagem muito mais arriscada), tendo eles assumido que, como líder da matilha, o ser humano sabe melhor, tal como o líder numa alcateia.
A descendência directa do lobo, apesar de não ser possível definir como única, pode ser confirmada devido às semelhanças que o cão apresenta com essa espécie, tanto físicas como comportamentais. As diferenças que verificamos devem-se à evolução divergente de ambos, tendo o papel do ser humano sido de enorme influência nas actuais características das diferentes raças caninas.
Assim sendo, tal como o lobo, o cão tem por base uma dieta carnívora, apesar de necessitar um pouco de tudo o resto que compõe uma dieta omnívora, a nível de nutrientes e vitaminas. Como qualquer outro canídeo, o cão tem um metabolismo que lhe permite ingerir alimento em exagero num dia, ficando vários dias sem se alimentar. Sabendo isto, é fácil entendermos que o cão não necessita de comida à disposição. Muito pelo contrário, a alimentação disponibilizada uma vez por dia, no máximo duas, torna o seu cão mais controlado e ciente dos seus objectivos, intrinsecamente ligados ao seu instinto de sobrevivência. Isto permitirá ao dono de um cão manter o mesmo focado nas regras a seguir, sem nunca haver oportunidade para haver desinteresse. De acordo com o que o nosso etólogo canino Nelson Ferreira instrui a todos os seus formandos nas suas sessões de etologia canina, o cão tem apenas dois objectivos de vida: comer e satisfazer o seu dono.
Sabendo estes aspectos, terá já uma boa base para ler o seu cão de uma forma diferente.
Acima de tudo, não devemos tirar o cão do seu papel de cão na Natureza! Amamo-los e valorizamos a presença dele pelo que ele é na sua essência, pelo menos é o que deveremos fazer. Fale connosco se precisar de orientações, ajuda-lo-emos no que pudermos!