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(Boa prática) Reflexão de uma enfermeira veterinária




É nos dias como o de hoje que a minha profissão se torna profissão de risco. Quando se conjugam dois factores desequilibrados, geram-se as situações de alta tensão. De um lado, um cão temperamental, desconfiado e com tolerância zero; do outro, um humano que começou o dia tenso, cansado e com tolerância zero. O resultado só pode ser explosivo, se assim o permitir.

Quando trabalhamos com animais, sabemos 3 coisas sobre eles: eles não têm consciência, eles não mudam em benefício do outro, eles não têm capacidade de auto-regulação emocional quando as coisas correm mal; e sabemos 3 coisas sobre nós: temos consciência, temos oscilações de humor, temos escolha.

A diferença entre nós e eles começa aí: nós temos escolha, eles não. Até poderiam ter, mas na maioria das vezes, os animais domésticos acatam as nossas opções e sujeitam-se ao que escolhemos fazer-lhes. E nós escolhemos cuidar deles, melhorar o seu bem-estar, em plena consciência de que chegará sempre o dia em que o nosso estado de espírito não é nada agradável para eles. E é nesse ponto que trabalhar com animais é tão recompensador, tão importante (para mim), tão genuíno: nós temos escolha, mas se tivermos sensibilidade para ver e sentir, se deixarmos, são eles que nos ensinam e aprimoram a nossa capacidade de adaptação e regulação emocional.

E a transformação é avassaladora; acordar de manhãzinha com um sentimento de angústia no coração, iniciar o dia com aquele remoer de intolerância a fervilhar, e depois ficar frente a frente com uma personalidade canina que emana por todos os poros a mensagem "estás a incomodar-me" logo no primeiro minuto, levando-nos logo a fazer uma introspecção.

Não é fácil mudar um estado de espírito em tempo útil para poder iniciar e terminar um trabalho que envolve esse ser sensível. Mas eles ensinam-nos a melhorar a rapidez.

Não há melhor coisa no mundo que trabalhar com animais. Fazem-nos perder a paciência, mas ensinam-nos a reconquistá-la; dão-nos muito que fazer, mas reduzem o impacto psicológico que tem; tiram-nos qualquer hipótese de trabalhar sem "sujar", mas oferecem-nos o lado natural da vida. Fazem-nos regressar às origens da psicologia humana, em que o ser humano coabitava com outros animais nas rotinas e habitats naturais, respeitando-os, valorizando-os e precisando deles, sem os obrigar a viver o turbilhão de emoções que só o ser humano poderia criar.

Por saber tudo isto, tendo a melhorar de dia para dia o impacto das minhas emoções nos cães e gatos que me "passam pelas mãos", por respeito, carinho e amor. No entanto, no fundo, eles dão-me mais a mim, pois o que eu lhes poupo, apenas faz com que eles tenham passado mais um momento livre de stress, mas o que eles me dão ao me incentivar a melhorar o meu auto-controlo fica para a minha vida toda, profissional, social e familiar.


Carlotta Hohenstein

CCP F671100/2018

Enfermeira Veterinária

Solar do Cão e do Gato

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